domingo, 6 de novembro de 2005

Cursos e Sonhos

Acabei o liceu, e agora? Todos acabamos por fazer esta pergunta. Ninguém acharia isto estranho, contudo, o que eu acho estranho é a resposta que mais frequentemente se faz ouvir: “Gostava de ir para Medicina”.

Há uns meses atrás assisti a uma palestra de um Professor da Universidade de Coimbra. Nela, ele apelava a um maior interesse pelas ciências, que ultimamente têm perdido muitos alunos para as ciências sociais. Não sei se a Medicina é considerada uma ciência social, duvido muito que o seja, mas concordo que esta deve ser posta de lado quando falamos de cursos científicos.

É estranho o elevado número de alunos que, tendo escolhido no nono ano um curso científico, acabam por ambicionar seguir Medicina. Não me considero um jogador compulsivo, mas era capaz de apostar que a grande maioria deles não quer na verdade seguir isso.

Os alunos de hoje vêem os seus caminhos bloqueados por cartazes a dizer-lhes para encarar uma realidade fantasiosa, e falaciosa, que é exposta na comunicação social, e canalizada pelos seus pais. Foram muitas as vezes que alguém me disse que tinha como sonho seguir um curso ligado às Ciências, como Biologia, Geologia, Física, ou Astronomia. Infelizmente, desistem afirmando que esses cursos não têm saída. Porque é que a grande maioria dos jovens teima em matar aquela criança que sonhava com um dia chegar às estrelas?

São vítimas da pressão dos pais? Dos amigos? Da sociedade? Ou talvez, vítimas de uma vontade tremenda de crescer demasiado depressa. Não ponho de lado a certeza de que alguns deles têm mesmo como sonho seguir Medicina. Mas todos aqueles que mudaram o seu sonho por outro motivo que não a perda de interesse, estão a cometer um erro, e vão passar o resto das suas vidas arrependidos por o terem feito.

Não deve existir nenhum motivo para pararmos de sonhar. O vosso sonho não tem saída? Já pensaram que, como a maioria escolhe apenas os cursos com saída, que talvez a procura pelo vosso emprego de sonho aumente, devido à diminuição de pessoas formadas nessas áreas, e que tenham assim uma hipótese muito maior de arranjar emprego, do que qualquer aluno de Medicina?

De qualquer das formas, quem faz o que gosta, e é bom a fazê-lo, não tem problemas em ter sucesso. É com este pensamento que devem fazer a vossa escolha. Não sigam os conselhos dos vossos pais, amigos, familiares ou professores. Sigam o caminho que o vosso coração vos quer mostrar. Ponham de lado essa perspectiva pessimista da realidade. As pessoas à vossa volta são portugueses, não têm outra escolha que não serem pessimistas. Não se deixem influenciar por quem apenas quer transmitir para vocês a sua forma de pensar.

“Vou seguir Medicina (ou outro curso qualquer) porque tem saída.” Quando esta frase se extinguir, talvez aí passemos a ser vistos como um povo mais optimista. Cabe a vocês, e às vossas convicções, dar ouvidos ao que deve ser ouvido: Os vossos instintos. Eu sonho um dia ser feliz com aquilo que faço, e vocês?

Publicado online em 6 de Novembro de 2005
Publicado pelo Jornal "A Melga" em Junho de 2006
Reeditado em 2 de Julho de 2013

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